quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

OS MISTÉRIOS DA LARINGE

"OS MISTÉRIOS DA LARINGE"

Na literatura Sanskrita encontram-se algumas histórias surpreendentes sobre a voz. Diz-se que os Rishis, ou sábios-videntes da Índia antiga, tinham muitas habilidades extraordinárias chamadas siddhis. Uma delas er...a o vac-siddhi (vac = voz) através da qual o que quer que o rishi dissesse se tornaria realidade. Às vezes, apenas articulando uma palavra, um rishi poderia materializar um exército inteiro e mudar o curso da história. Seguiu que a palavra falada foi considerada sagrada e inalterável, fato que não deixava de apresentar alguns problemas de vez em quando. Por exemplo no Mahabharata, o poema mais longo na história registrada da humanidade, os cinco irmãos de Pandava assistem a um torneio onde um deles ganha a princesa mais bonita como esposa. Chegando em casa, eles anunciam à mãe o Kunti virtuoso,
"Trouxemos um tesouro." Então, infelizmente, a mãe exclama, "Ótimo, permita que ele seja compartilhado entre vocês cinco" seguindo que a princesa teve que se tornar esposa de cinco homens, dividir-se entre eles, e, supostamente, sem ser parcial.
O poder criativo da voz é claramente expressado em Sanskrito onde vac (voz) é, freqüentemente, interpretado como um sinônimo para shakti, que é a energia criativa, o poder da manifestação. Em várias tendências da filosofia grega antiga pode ser encontrado conceitos similares sobre o logos, cujo significado primário é "palavra", mas também significa princípio criativo. No evangelho de João (original escrito em grego), também o termo logos é usado para caracterizar o princípio criativo pelo qual a criação foi manifestada: "No princípio era o logos (Palavra), e o logos estava com Deus, e o logos era Deus." (João 2:1) Note que o primeiro livro do Velho Testamento também apresenta um quadro no qual, em várias fases da gênese do mundo, Deus usa o poder da Palavra para criar: "E Deus disse: Que se faça a Luz e a Luz se fez."
(Gênese 1:3) "Disse também Deus: Faça-se o firmamento no meio das águas, e separe umas águas das outras águas" (Gênese 1:6) "Disse também Deus: Produza a terra animais viventes..." (Gênese 1:24), e assim por diante. Rudolf Steiner, em seus ensinamentos, também deixou muitas indicações relacionadas ao poder da voz. Um aspecto que ele desenvolveu em particular foi a polaridade entre a voz e os órgãos reprodutores, para os quais ele descreve muitas conseqüências no que diz respeito a humanidade.
Aparte das indicações de Steiner, fatos simples mostram que há uma conexão entre a voz (e então a laringe) e a energia sexual. Por exemplo: é quando o órgãos sexual se desenvolve, na puberdade, que a voz masculina expressa outro tom, devido à ação da testosterona, hormônio masculino. Em mulheres, alterações de voz também podem ser observadas logo após a menopausa.
Na astrologia, o órgão da voz é relacionado ao signo de Touro e o órgãos
sexuais a Escorpião. A polaridade entre o órgãos sexuais e a laringe é indicada
pela oposição entre os dois signos. Touro é governado por Vênus, Escorpião por Marte. Vênus e Marte formam um par, com funções dialeticamente opostas.
Outra conexão entre voz e órgãos reprodutivos pode ser achada no hebreu antigo, onde uma das palavras para voz é yediah e vem do yadah de raiz,
que significa "conhecer". E não é certamente nenhuma coincidência que o modo bíblico de se refirir a relação sexual é yadah, "conhecer". Por exemplo: "E Adão conheceu Eva, sua esposa; e ela concebeu, e nasceu Cain..."
(Gênese 4:1)
Em acupuntura o ponto QiChong (Estômago 30), localizado ao lado do osso
púbico, tem entre seus sintomas garganta dolorida depois da relação sexual. Pode-se achar várias outras conexões na Medicina Tradicional Chinesa entre energia sexual e garganta. Por exemplo: dentre os órgãos diz-se que o rim é o armazém da energia sexual. E na garganta encontram-se as amígdalas, que também têm a forma de um rim. No caso de uma liberação de "fogo" pelo rim, isso pode resultar em uma inflamação da faringe (faringite) ou das amígdalas (amigdalite).
Mas voltemos a Steiner e olhemos suas visões para o futuro do órgão da voz. Steiner considerou a tendência da evolução humana, a importância de certas partes do corpo minguar lentamente, enquanto outros órgãos representarão um papel mais essencial no futuro. Os órgãos sexuais pertencem à primeira categoria, enquanto a laringe, definitivamente, pertence à segunda. Steiner mencionou freqüentemente que aproximadamente no meio de Lemuria (a época que precedeu Atlantida), um evento crítico aconteceu na história oculta da humanidade. Até então a libido dos seres humanos havia sido dirigida completamente para a procriação, de forma que cada ser humano podia gerar descendência de si próprio. Em outras palavras, éramos todos hermafroditas. Um único ser poderia dar à luz um outro, sem ter que ser fecundado por alguém. O conceito de seres humanos primordiais como hermafroditas não é achado apenas em Steiner, mas também em vários mitos de muitas outras tradições.
Assim Steiner descreve como, no meio das alterações cataclísmicas do planeta Terra, os seres humanos perderam metade de suas energias de procriação. Eles deixaram de ser hermafroditas: os sexos foram separados. Cada ser humano reteve apenas metade da energia criativa, e dali em diante teve que achar alguém do outro sexo para gerar uma criança.
O que aconteceu então à outra metade da energia de procriação, que não estava mais disponível para tal? De acordo com Steiner, foi redirecionada para uma função diferente: pegando o Ego, ou Ego superior. Até então, seres humanos tinham vivido como seres amorfos, completamente desconectados de seus Egos. E foi através do redirecionamento da metade de suas forças sexuais que eles estabeleceram o começo de uma conexão com o Ego. Eles se tornaram seres espirituais. Tal visão sugere um modo muito interessante de olhar a relação entre energia sexual e espiritualidade, e a sexualidade em geral. Por exemplo, apresenta o instinto sexual como uma busca pela "metade perdida". E ao mesmo tempo sugere que a metade perdida, em última instância, não será encontrada fora, em uma união com outro ser, mas em uma completa comunhão com o próprio Espírito. Também sugere que a energia sexual e a energia que nos permite conectar com o Espírito são, fundamentalmente, da mesma natureza, e que o último não é senão uma refinada e redirecionada forma do primeiro. Esta concepção se ajusta bem aos sistemas taoístas de alquimia interna, onde o trabalho é refinar e transmutar a energia sexual para gerar o embrião da imortalidade, o corpo sutil no qual a abundância do Ego mais Elevado pode ser sentida permanentemente.
Mas voltando à voz, Steiner descreve como, depois que os seres humanos tiveram a metade da energia sexual redirecionada (aproximadamente no meio da época da Lemuria), algum órgãos novos apareceram no corpo humano. A laringe foi um deles. Isto estabelece uma conexão direta entre a transformada e espiritualizada energia sexual e a laringe: uma vez que a energia sexual do hermafrodita era 100% dirigida para a procriação, a laringe não podia aparecer. Quando a energia sexual foi refinada para começar a "cultivar" o Espírito, a laringe começou a se desenvolver.
Hoje em dia, se tentarmos entender a função presente de nossa laringe, vemos que é pela voz que expressamos nossos pensamentos e nossas emoções, que é um modo de lhes dar uma forma mais definida.
Steiner assim previu o futuro da humanidade: a capacidade da laringe para dar forma ficará extrema, e o poder criativo da palavra se manifestará inclusive no plano físico: só dizendo uma palavra, o objeto correspondente será materializado. Mesmo que se surpreenda com tais implicações, este conceito não tem nenhuma diferença do vac-siddhi ou poder criativo da palavra, que, de acordo com os textos sanskritos, os antigos Rishis Indianos haviam dominado.
Isto sugere que os seres humanos estejam ganhando a capacidade para criar gradualmente, semelhante ao Elohim no Velho Testamento. Em outras palavras isto apresenta o ser humano como um deus criativo na fabricação - um tema que se configura em toda tradição esotérica ocidental e começa no Gênese, quando Adão comeu da árvore do conhecimento, e o Elohim
exclama: "Vejam, Adão se tornou como um de nós." (Gênese 3:22) Todas estas considerações sobre a laringe levam a pensar que pode haver algum significado simbólico atrás da fábula de que a maçã de Adão era o pedaço da fruta da árvore do conhecimento que permaneceu preso em sua garganta.
De maneira interessante, Steiner previu um passo crucial na evolução da laringe a longo prazo: quando a força sexual for completamente transmutada, a função de procriação já não acontecerá nos órgãos sexuais, mas na laringe. Seres humanos terão ganho a capacidade de fazer nascer suas crianças através da fala.
Outra visão de Steiner que é bem coerente com várias outras fontes da tradição esotérica ocidental, é que com a transmutação final da energia sexual no poder criativo da da voz, virá o fim da morte: imortalidade física. O fim do órgãos sexual significa o fim da separação dos seres humanos em dois sexos. No evangelho de Felipe, um dos mais excitantes evangelhos, é declarado inequivocamente que se "a mulher" não tivesse sido separada do "homem", ela não teria que morrer com "o homem", foi a separação dos sexos que causou o começo da morte. O mesmo texto indica mais adiante que contanto que Eva estivesse em Adão, não havia nenhuma morte. É quando ela se separa dele que a morte começa. Se "o homem" ficar inteiro novamente, será o fim da morte. Isto se equivale ao evangelho de Thomas no qual Jesus fala aos discípulos que é fazendo um de dois que eles se tornarão os filhos do homem, e moverão montanhas dizendo, "Montanha, mova!"
Assim sendo, a "Palavra perdida", na qual a tradição maçônica está baseada,
terá sido recuperada, e o Templo reconstruído para sempre.
 
Amarílis A. Torres Sanches
 

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